24.3.14

pato feio, o pirata caolho.


Era uma vez um pato que gostava de recitar as vogais.

- Qua, qüé, qüi, quó, quu - repetia ele.

Um pato velho, rabugento, olhava-o com desdém. Uma pata bonita o chamava para tomar sopa, pois o pato - pato feio, ele bradou - com certeza estava com fome.

- Não quero tomar sopa! - reclamou o pato feio.

Claro, a pata bonita logo percebeu que, além de feio, caolho e faminto, o pato também era preguiçoso. Então, a pata se ofereceu para dar-lhe as colheradas na boca, pois o pato estava muito magro e fraco.

Após comer algumas colheradas, o pato feio reuniu forças para segurar sua luneta e, encaixando-a no olho bom e apontando-a para o teto, gritou:

- Terra à vista!!

É sabido que, estando eles em um mundo encantado, nada mais natural do que a terra estar no teto. Entretanto, como poderia o pato feio e magricela reunir forças suficientes para voar até as terras distantes do teto, em busca de seu inestimável baú do tesouro?

- O mago malvado está voando com sua capa! - exclamou o pato feio.

- Hnf - grunhiu o pato velho.

Oh, estava demorando para o vilão surgir e tentar impedir o pato feio de conseguir alcançar seu tesouro no teto. Obviamente, a intenção do mago voador era tomar toda a sopa do pato feio, para que este não conseguisse ficar gordo e forte. Mas a pata bonita percebeu que o que parecia um problema, poderia se tornar a solução: faria sopa de mago!

O pato feio começou por comer colheradas de pernas e dedinhos. Quase engasgou com os ossinhos, mas continuou decidido. Comeu braços, cabeça, tronco; picados ou em rodelas.

- Isso é frango? - perguntou o pato velho.

A confusão era justificável. Todos sabem que magos são muito branquelos, e podem facilmente ser confundidos com frangos.

- Comi três magos! - bradou o pato feio, muito orgulhoso, exibindo uma barriga cheia.

- Quer gelatina? - perguntou a pata bonita?

- Hmmm... Sim! - respondeu o pato, agora gordo. - Gelatina de mago!

O pato, apesar de agora estar gordo e bonito (a sopa era mágica, afinal era de mago), era um pouco nojento. E escolheu um mago resfriado, de modo que a gelatina era verde. Descobriu-se também, pouco depois, que a gelatina também foi feita de um cuco, que costumava dizer as horas para o finado mago resfriado.

- Hora de tomar banho! - dizia o cuco ao mago, pois ambos haviam sido muito asseados.

- Hora de tomar banho! - disse o ex pato feio, com a boca cheia de gelatina.

Pois, apesar de todas as diferenças, patos e magos tinham isso em comum: gostavam de estar sempre limpinhos.