30.9.08

meses precedentes

A gente ia tentando, tentando, tentando...
Não foram meses e meses a fio, mas o meu querrer era TÃO grande, que parecia que a gente nunca ia conseguir. E eu estava tão tensa.

A gente decidiu que não iria contar pra ninguém. Eu não ia suportar a fatídica pergunta: "E aí? Já...???" Não, eu não suportaria. Eu já estava ansiosa o suficiente sozinha, sem precisar de 'ajudas' externas. Até o marido foi instruido a evitar tocar no assunto. Eu queria aproveitar ao máximo os momentos em que eu não pensava nisso, e eram muito raros.

E eu ainda estava em fase de 'regularização'. Meu ciclo no primeiro mês de tentativa durou 31 dias, no segundo caiu para 30, o terceiro já tinha sido 29. E toda vez eu chorava. Mesmo com as recomendações da minha tia: não adianta ficar nervosa, não adianta ficar ansiosa... Que nada, eu já estava ansiosa antes de começar a tentar!

E aí ia entrar o quarto mês de tentativa. Eu ainda estava muito triste, pois no terceiro mês eu realmente já achava que tinha dado certo. Foi o mês que eu fiquei mais triste. E o marido, tadinho, eu sei que ele também ficava muito triste, mas ele tentava não demonstrar muito, pra me dar mais força. Porque ele queria, tanto quanto eu. Foi aí que eu falei que ia pular aquele mês, que tinha sido muito desgastante psicologicamente, que a gente voltaria a tentar no outro. E ele concordou.

Mas foi tudo da boca pra fora, pois continuamos a tentar e eu continuei ansiosa, apesar de ficar fingindo que não. Talvez a idéia seja essa, fingir com toda a sua força. Quem sabe a gente não consiga até convencer nosso organismo, se fingir com veracidade o bastante?

Pois bem, talvez também tenha sido apenas que eu finalmente tenha ficado regulada. E eis que eu tinha calculado que o ciclo duraria 29 dias novamente, ou seja, iria vir dia 27 - afinal, a gente 'não estava tentando'. E, na última semana do mês, eu tinha tantas outras coisas na cabeça que realmente tinha até me esquecido um pouco do assunto. Porque, vou te contar, esse mês a gente tá mudando tudo de tudo, e tudo ao mesmo tempo.

E aí, eu estava sentadinha dia 26 e pensei, 'puxa, amanhã é aniversário da Ju...' E me dei conta nesse momento. AMANHÃ É DIA 27! Ai, ai, ai. E eu não podia pensar que eu não tinha tido cólica ainda, não podia pensar que ainda não tinha tido nenhum sinal de que ia vir, porque no mês anterior veio sem NENHUM aviso prévio (e foi um choque quando eu vi). Então, eu pensei que no mês anterior tinha sido até melhor, porque veio e pronto, não teve mais muito o que esperar. Agora, eu fui me dar conta bem no dia anterior e eu ia ficar na ansiedade até vir. Mesmo que eu achasse que não ia vir. A esperança é a última que morre, sabe?

E eu fui pro sítio. E dia 27 não veio. E eu ficava toda ai ai ai. Mas não queria falar nada pra ninguém, porque poderia vir a qualquer momento e eu só ia deixar todo mundo ansioso que nem eu. E fiquei quietinha, mas muito ai ai ai. E dia 28 não veio. Ai ai ai.

Segunda-feira eu acordei uma pilha. E fui no banheiro. Nada.
Aiaiaiaiai!!!!!
Passei a manhã toda quase botando meu coração pela garganta. Mantive minha idéia de não dizer nada pro maridão. Não queria deixá-lo nervoso como eu estava. Tadinho, ele estava tão tranquilo e distraído com nossos outros mil assuntos. A ignorância é uma felicidade, não? Mas eu precisava falar com alguém. Alguém que não estivesse diretamente tão emocionado, como estaria qualquer pessoa da família. Mas alguém que fosse praticamente família.

Mas quem disse que a Frô chegava? Eu ia na salinha, conversava um pouquinho, voltava, trabalhava o quanto minha concentração permitia, voltava pra salinha... E aí a Frô chegou. E ela me levou na hora até uma farmácia. Moço, me vê um teste de gravidez. Qual o mais caro? É esse que eu quero. (Aliás, anotem: Clearblue, muito bom).

Esperei até 17hs. Que é quando eu saio do trabalho. Falei pro maridão me buscar na casa da Frô. E lá fui eu, fazer xixi no copinho (pro meu espanto, nem é difícil) e analisar o bastãozinho que fica cor-de-rosa. E tem que esperar o risquinho aparecer e depois, se der '-' é negativo, se der '+' é positivo.

E quem disse que eu precisei esperar o risquinho aparecer? A primeira coisa que aconteceu foi aparecer aquele '+', bem azulão, bem forte, pra não deixar nem sombra de dúvida! Positivo! Devia aparecer escrito no bastãozinho depois:

"PARABÉNS, VOCÊ VAI SER MAMÃE!!!!!!"

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Hein? Como é que eu contei pro maridão?

Bem, entrei no carro, joguei o exame no colo dele e, debulhada em lágrimas, gritei: TÔ GRAVIDA!!!!!!!

Ficamos chorando e abraçando alguns minutos. Depois, em casa, veio a fatídica lista de ligações a fazer. E mais choros, claro!

Alguém faz idéia da alegria que estou sentindo?

25.9.08

coisas que marcam

É engraçado como tem coisas que marcam a gente...

Quando eu era pequena, acho que tinha uns 7 anos, uma vez eu liguei na casa de uma menina da minha classe para convidá-la para vir brincar comigo, só que a dita cuja me respondeu que umas outras meninas da escola estavam na casa dela, por isso ela não poderia vir. Meio chateadinha, eu desliguei e contei pra empregada que trabalhava em casa - a Lu, um amor de pessoa! - que me sugeriu que eu ligasse para a menina de novo, perguntando se eu não poderia ir lá também.

Já animada de novo, eu corri pro telefone e liguei. A resposta não foi bem a que eu esperava:

- Ah... É que já tem muita gente aqui, não vai dar pra você vir não...

Isso realmente me traumatizou. Me senti a criança mais indesejada da terra. E desde esse dia, criei uma certa mania de perseguição. Sempre achava que as pessoas não gostavam de mim, ou que estavam falando mal, ou que eu estava atrapalhando de alguma forma. E, apesar de eu não ser do tipo que confronta as pessoas, ou seja, nunca briguei com ninguém por causa disso; esses sentimentos acabaram me afastando das meninas da escola. Eu tinha dificuldade para montar grupo para os trabalhos e tinha medo de convidar as amigas para qualquer coisa e receber negativas. Morria de medo.

Outro motivo de isso me afastar das meninas, era que eu fiquei bem chata. Com essa mania de perseguição, eu acabava cismando que tinha alguma coisa errada, aí saía de perto delas e ficava toda tristonha num canto. Meu, que criança que vai querer brincar com uma menina assim? E isso vira uma bola de neve, né. Porque se eu fico chata, as meninas se afastam e eu me sinto mais triste e fico mais chata...

Mas, antes que você fique pensando 'ai, que judiação', deixo claro uma coisa: não fui uma criança infeliz. Eu tinha apenas algumas fases em que esses problemas ficavam mais em evidência. Mas no geral eu tive várias amigas e brinquei bastante com elas ao longo da minha infãncia. Mas existiram casos recorrentes em que eu me afastava. A sorte é que meus pais meio que 'me obrigavam' a ligar pras meninas nessas épocas, e eu acabava melhorando. E, quando eu cresci, eu percebi que eu era cheia das frescuras e cortei isso de uma vez - o que melhorou e muito meu desenvolvimento social, rsrs. Claro, que eu tinha uma ou outra recaída, até na faculdade, mas nunca mais deixei que aquele sentimento de antes me impedisse de manter minhas amizades.

Enfim, eu fugi completamente do assunto. O que eu iria contar era uma outra história...

Certa vez, quando eu estava na quinta ou sexta série, eu fui numa festa de comemoração pela chegada das férias. A minha classe inteira foi e estava bastante divertido. De repente, numa certa altura da festa, tive a velha sensação de que eu era indesejada e me afastei. As meninas estavam todas no quintal da casa onde estava sendo a festa, e eu entrei na sala e sentei sozinha num sofá. Fiquei alí, toda jururu sem nenhum motivo aparente. Eu segurava para não chorar. Eis que dois meninos se aproximaram de mim:

- Que aconteceu? Você tá chorando? - perguntou um deles.

- Não... - respondi.

- Ah, não fica assim! - eles disseram.

Aí, os dois foram até o aparelho de som e aumentaram o volume e começaram a dançar, fazendo palhaçada na minha frente até eu começar a rir. E depois disso, eu fiquei tão melhor que levantei e fui lá na rodinha de meninas de novo.

Eu nunca mais esqueci daquilo. Dos dois meninos que não quiseram me ver triste e tentaram me fazer sorrir...