23.7.09

zezinho, parte 1

Antes de começar, darei uma de Brás Cubas e vou contar o final: não morri e o Zezinho está muito bem, obrigada. Aliás, durante a gravidez praticamente inteira, tudo ia bem, como eu vinha escassamente relatando por aqui.

Até a Páscoa.


O primeiro susto

Consulta pré-natal de rotina, a doutora verifica minha pressão e vem a surpresa: 13x9. E, olha, a barriga parece que não cresceu muito também... Melhor fazer repouso durante o feriado, diminuir o sal e voltar aqui na segunda-feira. E, se possível, com um novo ultrassom na mão, ok?

Eu não estava exatamente preocupada ainda naquele feriado. Sabe, eu sou extremamente otimista. Eu tinha certeza que tudo ia ficar bem. Além do que, se eu começasse a ficar preocupada, isso só iria aumentar minha pressão, certo? Então a segunda-feira chegou e eu fui fazer o tal ultrassom. Olhando com um ar intrigado para a tela, o doutor me pergunta:

- Você perdeu líquido amniótico?
- Não, por quê?
- A quantidade de líquido está bem baixa...
- Baixa quanto?
- 2.
- E o normal é...?
- 12.

O exame acabou. Eu não consegui ficar alí no consultório esperando o resultado por escrito, pedi desculpas para o Marido e fui para o carro. Chorar. E rezar. É difícil continuar otimista nessas horas, mas eu ainda tentava.

A consulta com a obstetra ia ser só no fim do dia, mas ligamos lá para adiantar e fomos logo depois do almoço. Com o resultado do ultrassom na mão, a médica me olhou preocupada - já nos conhecíamos desde muito antes de eu egravidar, temos parentes em comum, e eu gosto muito dela.

- Antes de mais nada, eu gostaria de saber se você tem interesse em ir para a casa dos seus pais - inquiriu ela, com aquela voz extremamente gentil de sempre.
- Eu ia perguntar mesmo se eu posso viajar assim, porque eu tenho certeza que meus pais vão querer que eu fique lá com eles agora... - respondi.
- Pode viajar, mas você deve ir deitada no banco trazeiro e eu quero que você passe em uma farmácia assim que sair daqui e tome imediatamente esse remédio (para pressão).

Então ela me explicou que se eu tivesse decidido ficar, ela iria me internar no hospital naquele mesmo dia e ia fazer mais exames. Se o caso fosse como parecia mesmo, talvez eu tivesse que fazer uma cesárea em uns 2 dias. Mas, agora, quem iria decidir os próximos passos seria meu novo médico e eu deveria confiar no julgamento dele.


O novo médico

É uma das referências quando o assunto é gravidez de risco. Ainda na mesma segunda-feira, ele me examinou, fez mil perguntas, mediu minha pressão e analisou cuidadosamente os resultados dos meus ultrassons:

- Você tem certeza que esse ultrassom é seu? - perguntou, olhando o resultado daquele último.
- Sim.
- Isso não faz muito sentido...

Ele pediu um novo ultrassom, num lugar de sua confiança, que seria feito ainda naquele dia. O médico que fez o novo ultrassom era muito bom, super atencioso. Fiquei um século na sala, ele media tudo várias vezes. Por fim, constatou-se que: o Zezinho estava com o tamanho de um bebê que estaria numa idade gestacional 1 mês mais nova que a dele, e o líquido amniótico estava realmente baixo, mas não tão baixo quanto o outro ultrassom havia mostrado.

A segunda-feira ainda não havia acabado. Encontrei o obstetra no hospital e ele colheu meu sangue para fazer uma série de exames. O que eu tinha era algo chamado DHEG - Doença Hipertensiva Específica da Gravidez. Não, eu não tinha histórico de hipertensão na minha vida, e não tem absolutamente nada a ver com isso. Como o próprio nome diz, é um caso de hipertensão que acontece especificamente na gravidez, e não existem muitos meios de se prever quem vai ter ou não uma coisa dessas. Costuma acontecer apenas na primeira gravidez da mulher (ou seja, provavelmente eu não terei isso novamente), e é ocasionada principalmente por algum tipo de rejeição à placenta. O que significa que a minha hipertensão iria sumir alguns dias/horas/meses após o parto, pois não haveria mais aquela placenta dentro de mim.

O problema é o seguinte. Essa tal DHEG pode levar à pré-eclampsia que, por sua vez, pode levar a uma eclâmpsia. E isso é um treco perigoso. Eu não sabia exatamente porque era perigoso e quão perigoso, de modo que foi bom para eu não ficar mais nervosa (o que faria minha presão subir mais).

O médico me passou muita calma, ele me explicou o suficiente para não me deixar perdida e não entrou nos detalhes que me deixariam preocupada. O que eu deveria fazer era ficar deitada o dia todo, tomar muito líquido, me alimentar bem, diminuir consideravelmente o sódio do meu cardápio e medir minha pressão trocentas vezes ao dia. E não se esqueça de tomar os remédios prescritos. Se a mínima da pressão atingir 10, ou dependendo dos resultados dos exames e ultrassons que seriam feitos regularmente, o nascimento teria de ser antecipado. E cada dia que eu conseguisse manter o Zezinho na minha barriga seria uma vitória. Se conseguíssemos 12 dias, seria bastante satisfatório.

Naquele dia eu estava com 32 semanas e 3 dias.


(Continua em: zezinho, parte 2)