16.3.10

zezinho, parte 2

Os dias foram passando. Eu tinha um esquema para conseguir tomar todo o líquido recomendado por dia; tinha que comer bastante, mesmo a comida estando totalmente sem graça; tinha que ficar deitada o dia todo, praticamente na mesma posição, mesmo estando com um torcicolo terrível...

Não nego que foi difícil, alguns dias dava vontade de chorar. Aliás, chorei algumas noites de dor no pescoço - o torcicolo provavelmente era proveniente do fato de eu ficar o dia todo na mesma posição. Mas mesmo nos momentos mais difíceis, eu sempre acreditei que tudo ia dar certo. Boa parte da minha tranquilidade era resultado do modo como todos me tratavam, sem demonstrar quão perigosa era a situação.

Com frequência eu fazia exames para ver como ia a minha saúde e a saúde do bebê. O médico, que me passava cada vez mais confiança, sempre se mostava realista, sem ser pessimista. Cada dia, um ganho. Passou-se quase duas semanas quando ele demonstrou que o parto estava prestes a ocorrer, era apenas uma questão de dias. Faríamos um ultrassom dali a uns 4 dias e talvez no mesmo dia seria o parto. O dia previsto, meio que marcado, era 30 de Abril.

O parto seria cesária, não teria outro jeito. E estava sendo marcado para aquela quinta-feira porque, a partir dalí, minha vida correria cada vez mais risco e o bebê parecia não estar mais se beneficiando tanto com o fato de ainda estar dentro de mim. Também, com aquelas duas semanas, o risco de acontecer algo com o bebê, por ser prematuro, já havia diminuído.


O medo

É bom fazer um adendo.

Desde o início da gravidez eu queria muito que o parto fosse normal. Muito mesmo. Um dos maiores motivos era que eu queria passar por essa experiência (aliás, ainda quero). Eu sempre soube que ia doer que nem o inferno, mas eu queria passar por isso. Acho que faz parte de ser mãe, sabe.

Isso é uma coisa muito pessoal, claro. Tem mulher que morre de medo de ter parto normal; tem as que têm medo da cesária; tem aquelas que queriam normal e não puderam, mas que também não sentiram a cesária como algo negativo. Eu respeito cada caso, porque só sabe o que se passa na cabeça de uma mulher grávida, quem já passou pela experiência.

E eu queria o parto normal. Antes de a minha pressão subir, eu fazia exercícios específicos para que o bebê entrasse na posição correta - com a cabecinha para baixo. Mas nos exames, o safadinho sempre aparecia sentado. Eu comecei a ficar um pouco ansiosa com isso, porque se o bebê não está na posição adequada, o parto normal é arriscado e acabaríamos optando pela cesária.

Outro 'sonho' que eu sempre tive era de estar com o Maridón do meu lado na hora do parto. Era uma coisa da qual eu não abria mão. Tem gente que quer a mãe do lado, mas eu realmente queria meu marido. Isso era algo muito importante para mim.


Dia D

Na época da gravidez estávamos reformando a nossa futura casa lá na nossa cidade e o Marido sempre ensaiava de viajar até lá para ver como iam as coisas, mas ele nunca tinha coragem de ir porque o bebê podria nascer a qualquer momento, dependendo dos resultados dos exames que eu fazia regularmente. Porém, naquela segunda-feira, dia 27, ficou meio pré-marcado que o nascimento seria na quinta-feira. Assim, Marido e Sogro marcaram uma viagem para o dia seguinte.

Dia 28 de Abril, bem cedinho, Marido e Sogro pegaram a estrada e eu fiquei, como de costume, deitadinha a manhã toda num colchão no chão da sala de tv da minha mãe. Eu tinha um costume, que era tentar acumular tarefa para precisar levantar o menos possível. Por isso, mesmo estando com vontade de fazer xixi a um certo tempo, eu estava esperando a hora do almoço, para levantar uma vez só.

Eu estava cochilando, de costas para a tv quando meu pai chegou. Eu ouvi, mas estava com preguiça de abrir os olhos. De repente, senti algo estranho e pensei: "Nossa, será que eu estava com tanta vontade de ir no babnheiro assim e não percebi???!!" Levantei com pressa, pois achei que estava prestes a fazer xixi alí mesmo.

Num minuto eu estava dentro do lavabo e quando fui abaixar a roupa, percebi as gotas de sangue no chão. Foi o momento mais aterrorizante da minha vida. Comecei a gritar pelo meu pai, que veio mais rápido que um raio. Ele me levou para o quarto e pediu que eu me acalmasse, enquanto ligava para a minha mãe. Minha mãe ligou para o médico e este disse que queria falar comigo. Em algum momento, lembro de ter sentido um chute e aquilo foi como uma dose cavalar de calmante. O bebê mexia!

Rapidinho minha mãe já estava do meu lado, me entregando o celular. Contei ao Dr. E. tudinho e ele mandou que eu fosse para o hospital imediatamente. Do carro, liguei para minha sogra. E para o meu marido! O pobrezinho estava lá na nossa cidade, vendo obra!

No hospital o médico apenas colocou o doppler na minha barriga, ouviu o coração do bebê e chamou a enfermeira: Prepare-a para a cesária e já a leve para a sala de parto. Meu coração disparou. De repente me deu tanto medo da cirurgia. E meu marido não ia estar ao meu lado!!! Eu estava quase desesperada, mas sabia que eu tinha que manter a calma. Tentava não pensar em nada, mas toda vez que eu ficava sozinha (leia-se sem meus pais) no trajeto para a sala de parto, me ameaçava um certo pânico.

Já deitada na mesa de cirurgia, percebi que nem minha mãe nem meu pai ficariam comigo. Quase chorei. Mas aí minha Tia, com T maiúsculo, apareceu do meu lado e dali não arredou pé. O que me acalmou muito.

A cirurgia foi tranquilíssima e muito rápida. Segundos antes de começar o médico teve que decidir qual seria o corte por onde o bebê seria tirado. Um deles traria menos risco de o bebê sofrer algum trauma durante a retirada, mas o Dr. E. optou pelo outro. Por um motivo simples: o corte menos perigoso, na transversal, praticamente me impossibilitaria de ter outros filhos. O que demorou mesmo foi fechar o corte, pois são muitas camadas de tecido. Mas aí eu já estava beeem mais tranquila.

Em dado momento, uma enfermeira me pediu que eu relaxasse mais, pois os nós dos meus dedos estavam brancos de tanto que eu apertava a minha mão. mas aí eu expliquei a ela que eu não estava apertando a mão, eu era é muito branca mesmo. Hehehe.

Às 14:17, com 34,5 semanas de gestação, o Zezinho nasceu muitíssimo bem, mas com 1500g. Magrelíssimo, tadinho. Ficou na UTI durante 10 dias, um mês no hospital no total. Não precisou ficar ligano no oxigênio, só precisou ganhar peso mesmo.

No fim, deu tudo certo!



(Continua em: zezinho, parte 3)

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