10.8.10

dia dos pais

Domingo foi dia dos pais, mas eu não encontrei o meu pai. Só falei meio rapidinho por telefone.

Meu pai é algo. É o cara mais romântico e carinhoso do mundo. Do tipo que provoca aquelas reações nos filhos: "Ai, me poupem vocês dois com essa melação..." Ele é um verdadeiro mel. Adora ganhar beijinhos. Acho que uma parte disso é insegurança. Aliás, ele é muito inseguro, apesar de fazer tipo de machão e cheio de si. Metiiiiido. Ele quer provar para todos que ele é o máximo, então vive exaltando suas qualidades. Só ele não sabe que todo mundo conhece as qualidades dele. Ele tem um montão.

Eu e meu irmão puxamos o gênio forte dele. Aí, já viu. Batíamos de frente o tempo todo. Nunca fui muito de ouvir bronca calada, nem meu irmão. E chegou uma época em que meu pai cismou que eu tinha alguma coisa contra ele. Ele achava que eu o contrariava sem motivos. Chegou a dizer uma vez que eu não o amava de verdade, que eu não gostava dele e negava tudo o que ele me dizia. Mas isso foi naquela fase complicada de adolescência em que os filhos são meio assim mesmo e, por eu ser a filha mais velha, ele não estava preparado para esse tipo de choque. Achou que era algo pessoal, mas nem era.

Não sei se ele já entendeu isso. Às vezes acho que ele ainda acredita um pouco nessas coisas, que eu não confio nos conselhos dele e não dou ouvidos ao que ele me diz. Pior que é mais ou menos o contrário absoluto. Chega a ser um pouco patológico. Outro dia fui colocar molduras nos quadros aqui em casa e quando ficaram prontos e entregaram no meu apartamento estava tudo um horror. Aí eu comentei com meu marido:

- Nossa, fico imaginando o que o meu pai ia falar se ele visse essas molduras horríveis!

Meu marido disse que ele sabia que eu ia dizer isso. Como seu eu estivesse mais preocupada com meu pai do que com as molduras. Na hora fiquei chocada com a audácia, mas acho que em parte ele tem razão. Eu dou tanto valor para a opinião do meu pai, que se acho que ele não vai gostar de algo, perco até o sono. Eu odeio quando a gente discorda de algo. Porque eu realmente acho que ele geralmente está certo. E quando eu estou certa, fica aquela sensação de que o mundo está invertido.

Fora isso, eu tenho várias opiniões que foram "herdadas" do meu pai. Às vezes até dá um pouco de vergonha, como se eu não tivesse opinião própria. Porque fico com a sensação de que eu sou uma menininha "meu pai falou isso, meu pai falou aquilo, isso é assim porque meu pai disse...". Claro que eu não sou assim, eu filtro o que ele diz e não concordo com absolutamente TUDO, mas tem tanta coisa que eu penso e que eu sei que meu pai pensa igual, que chega até a me dar uma falta de identidade momentânea! Tipo, eu odeio o Silvio Santos. Meu pai odeia o Silvio Santos. Eu sei porque eu odeio o Silvio Santos, mas fica a sensação de que eu só odeio porque meu pai odeia - o que não é verdade, apesar de ele ter construído a base para o meu desprezo.

Tem uma outra coisa que eu acho que ele não sabe. Todas as vezes em que ele sentou e me explicou os motivos de eu não poder fazer isso ou aquilo, eu guardo a explicação até hoje, como um lema de vida. Tipo as drogas. Ele me explicou o que eram drogas e tudo o que havia de ruim nelas quando eu ainda era meio criança. Ele não chegou e falou que era ruim e que eu não podia e só, ele explicou TUDO. E eu entendi, nunca esqueci, nunca desobedeci. Mas o que eu queria dizer mesmo fica mais evidente em outro caso. Ele também me proibiu de assistir novelas quando eu era mais criança. Claro que eu desobedeci todas as vezes que eu tive a chance. Mas ele também me explicou todos os motivos que faziam com que ele não gostasse das novelas. E aí, mesmo eu desobedecendo e assistindo alguns capítulos, eu sempre me lembrava das coisas que ele tinha me explicado e, no fim, eu tinha olhar crítico sobre o que eu assistia. O que eu quero dizer é que ele não faz idéia de que ele sempre foi tão bom em explicar como eram as coisas, ao ponto em que a proibição nem sempre era necessária.

A verdade é que meu pai é um cara muito sabido e ainda é um baita professor. Não me adimira que ele seja tão bem quisto pelos seus alunos de residência. Porque ele é um paizão pra mim e para todo mundo que o conhece. É do tipo que quando bota fé em alguém, abraça a causa e faz de tudo para ajudar a pessoa a ter sucesso total. Ele é bem altruísta nesse sentido. Ele se doa. O que é lindo de morrer, né.

Em toda a minha vida e na do meu irmão, meu pai acertou, como pai, praticamente sempre. E nas poucas vezes em que ele errou, foi por querer acertar demais - e com um motivo desses, não dá pra não relevar. Aí que a gente acaba arredondando para 100% de acerto. Baita paizão esse.

Um comentário:

Anônimo disse...

Conheço bem esta pessoa. A mais tempo que voce. Não é facil lidar com ele. Tipo amor e ódio.

Que bom que voce o ve assim.

Lembra muito uma outra pessoa que já se foi. Eu a vejo na memória, do mesmo jeito que voce ve seu pai.

Beijão!