18.3.10

zezinho, parte 3

Ué, não tinha chegado no fim???

Pós-operatório

Pois é, a história não acabou.

O Zezinho nasceu exatamente 14:17. Eu o vi muito rapidamente e ele foi direto para a UTI. Eu fui para o quarto do hospital e, de tempos em tempos, vinha uma enfermeira medir minha pressão. Eu me sentia ótima. Meu bebezinho lindo estava super bem e a única coisa que eu sentia era fome, pois não tinha almoçado.

Fato interessante: meu irmão nem sabia de nada, só contamos a ele depois do nascimento, quando já estava tudo bem; pois bem, não é que ele me mandou uma mensagem no celular, perguntamos como eu e o bebê estávamos extamanete às 14:15?!!

Maridón chegou no hospital sei lá que horas e estava todo mundo radiante. Só as enfermeiras é que insistiam em comentar que a minha pressão não estava baixando - na verdade, estava subindo. Até que no fim da tarde uma delas resolveu ligar para o Dr. E. por causa da chata da hipertensão. Ele veio no meu quarto, mediu a minha pressão e constatou que estava alta demais. Segue o diálogo:

- A pressão está subindo e nós precisamos fazer com que baixe logo. Por isso, vou interná-la na UTI e vou sulfatar - disse o médico.

- O que é sulfatar? - perguntei.

- Injeção de sulfato de magnésio, para obrigar essa pressão a baixar bem rápido.

- E d-d-dói?

- É... um pouco...

Minha gente, mas isso me deu uma tremedeira louca! Nem eu sabia que eu tinha tanto medo de injeção!!!

Me levaram para a UTI. Daí em diante eu perdi a noção do tempo. Acoplaram uns aparelhos que mediam meus sinais vitais e um aparelho de pressão no meu braço que me apertava de 15 em 15 minutos. O Dr. E. veio com uma injeção descomunal, mas eu nem fiquei olhando porque já estava nervosa o bastante. Mais ou menos nesse momento, minha pressão chegou a 22 por 12. Acho que fiquei a ponto de ter uma convulsão, mas não tive. Aliás, é isso o que chamam de pré-eclampsia. Se eu tivesse tido a convulsão, seria eclâmpsia.

O Dr. E. aplicou a injeção e, mão santa!, não doeu nadinha de nada. Minha Tia disse que nem sabe como, porque essa injeção costuma doer bastante mesmo. Mas a pressão não baixou. Então ele pingou UMA gotinha de um medicamento poderosérrimo na minha veia. Minha pressão começou a baixar rapidamente, o que deixou o médico tenso, pois baixar a pressão de uma vez também é perigoso.

Pois bem, o Dr. disse que eu iria ter que tomar outra injeção por volta de 2:00 da manhã, mas eu o convenci de que não seria necessário. Hehehe. Eu sentia muito calor, por isso o ar-condicionado da UTI foi diminuido até a temperatura de freezer. Eu via os enfermeiros encapotados, mas me sentia como se estivesse dentro de um forno. Meus pés suavam litros. O Dr. sentou-se ao pé da minha cama, ao lado do meu pai e, depois, ao lado da minha Tia. Quando ele estava conversando com a minha Tia, eu estava de olhos fechados, mas acordada. De repente, vi que eles ficaram em silêncio e senti um chacoalhão brusco na minha perna, seguido do som do meu nome. Olhei para o Dr., que estava pálido; então, percebi que os aparelhos que mediam meus sinais vitais estavam com mau contato, e o monitor estava indicando que eu tinha morrido! Até hoje tenho dó do Dr. por tanto susto que o fiz passar naqueles dias.

Depois que todos foram embora, tentei dormir, mas foi um sono agitadíssimo por causa do aparelho que ficava sempre me apertando para medir minha pressão. 2:00 ouvi um enfermeiro comentar que estava na hora da segunda injeção de sulfato de magnésio. Rapidamente abri os olhos e perguntei quem aplicaria, no que fui respondida que seria uma tal enfermeira X. Nada contra a moça, mas eu não queria ninguém segurando aquela agulha perto do meu behind. Me apressei em explicar que o Dr. E. tinha concordado em não mais aplicar aquela coisa. O enfermeiro foi verificar e eu olhei para o aparelho do meu lado que estava apertando meu braço de novo. A pressão deu uma leve subida, respirei fundo umas trocentas vezes e esperei a próxima medida, rezando para que nenhum enfermeiro visse o valor. Deu certo, a medida seguinte foi mais legal comigo e o enfermeiro voltou confirmando o que eu já havia dito. Nesse ínterim, voltei a sentir calor, mas fechei os olhos e dormi novamente (sendo apertada de 15 em 15 minutos).

Além disso tudo, a avó do meu marido, naquela mesma madrugada, faleceu. Meu marido soube apenas quando amanheceu e me contou uns 15 dias depois. Meu pai deu uns foras enquanto eu ainda estava na UTI, mas minha mãe e meu marido conseguiram me engambelar. Fiquei mais um dia e uma noite na UTI, em observação. Depois, fiquei na maternidade do hospital até completar uma semana do nascimento. Só fui ver, de verdade, meu filho quando ele já estava em seu terceiro dia de vida. Mas eu estava feliz porque sabia que ele estava bem.

Durante toda essa saga só tive dois medos: enquanto grávida, de perder meu filhinho; depois do parto, da injeção (!). É estranho, porque eu sou uma pessoa que tem muito medo de morrer. A possibilidade de morrer me aterroriza demais, mas naqueles dias nem pensei nisso. Acho que bloqueei, sei lá.

Enquanto eu estava no hospital, podia visitar meu neném 2 vezes por dia; quando tive alta, podia vê-lo 1 vez por dia. Mas logo deu-se início o lance do mamãe canguru. É um estudo muito bacana que diz que os bebês prematuros se desenvolvem melhor quando em contato com o corpo da mãe. Por isso, eu comecei a ir ao hospital logo de manhã, ficava com uma camisola e meu Zezinho ficava só de fraldinha, pele com pele, deitado no meu peito. Ele só saia dali para mamar e para eu comer, mas no fim da tarde eu ia embora de novo. Ele ainda mamava no copinho, pois não tinha força nem sabia mamar no peito ainda (perdeu os instintos ao ficar na incubadora).

Quando adiquiriu um certo peso, tentamos ensiná-lo a mamar no meu peito, mas não estava dando certo, então, resolvemos adiar mais, para ele ficar ainda mais forte. Com cerca de 1700g (acho), tentamos de novo. Parecia que nunca ia dar certo, mas eu já tinha 'perdido' meu parto normal, não ia perder a amamentação também. Não desisti, apesar da dificuldade exorbitante. Voltei a ficar alojada na maternidade e o neném veio ficar comigo no meu quarto. E ele ainda não estava mamando no meu peito. Ele só pegou firme no meu peito no terceiro dia e, quando isso aconteceu, o pediatra deu a alta na manhã seguinte.

Ah, esqueci de contar que na primeira semana de vida dele, meu leite começou a dar sinal de existência. E foi assim, do dia pra noite, que virei uma vaca leiteira. Meus peitos ficaram gigantescos e empedraram em uma noite. Foi um fuá, precisei de ajuda da enfermeira, precisei ir no banco de leite vários dias seguidos para me ajudarem a desempedrar, precisei de massagens doloridíssimas e precisei acordar de 3 em 3 horas para tirar leite, senão empedrava de novo. Eu doava tanto leite, que as mocinhas do hospital começaram a chamar meu marido de leiteiro. Foi horrível, nunca imaginei que pudesse doer tanto. Meu marido tinha que me ajudar, porque eu não tinha forças para tirar o leite, de tanta dor que eu sentia. Era de chorar.

Quando isso melhorou um pouco, o meu pixotinho começou a mamar no meu peito. Mas ele ainda não sabia muito bem o jeito certo e acabou rachando meus bicos. Ha-há. Se eu achava que peito empedrado doía, eu não sabia era de nada. Porque bico rachado é tão pior... De qualquer modo, o que funcionou para isso, foi passar leite constantemente e tomar sol de topless todos os dias. Não tem nada mais cicatrizantemente eficaz. Mas, acreditem, depois que isso passa, amamentar é muito gostoso. Sério!

No fim, sofri diversas vezes, senti dores, medos e, em alguns momentos, quase enlouqueci. Mas tudo valeu a pena e, hoje, lembro de tudo isso rindo. Meu pequerrucho é a coisa mais linda DO MUNDO.


Depois

Depois que nasceu, o Zezinho ficou 1 mês no hospital e mais dois meses comigo na casa dos meus pais. Depois voltamos para a nossa cidade, na casa alugada mesmo, porque a outra ainda não estava pronta. Ele dormia no quarto improvisado, em um berço improvisado, e era tudo uma delícia. Quando ele estava com cerca de cinco meses e meio, finalmente nos mudamos para a nova casa velha.

E o resto eu conto depois.

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