27.2.13

Desolação - Uma Homenagem a Lovecraft

Não resisti aos meus obscuros desejos e, com um desespero periclitante, me entreguei a mais um impressionante e insidioso romance de Howard Phillips Lovecraft. Sim, o traiçoeiro volume me atraiu de tal forma vil e doentia, que não pude esperar para lê-lo da maneira mais confortável. Mergulhei no louco Caso de Charles Dexter Ward através da alarmante, ainda que profícua, tela de um computador. 

É estarrecedor pensar quão degenerada era a mente febril do homem que escreveu histórias terríveis, que superam em horror a mais desenfreada fantasia de qualquer leitor comum. Quais teriam sido os pavorosos pesadelos à espreita de longas noites de sono turbulento, amaldiçoado e insano? Não, eu nunca conseguiria sequer começar a imaginar que estranhas aberrações permeavam a visão retorcida daquele homem. Nada do que eu visualizasse chegaria sequer próximo de uma paródia incipiente daquele terror cósmico, queimando como os fogos fátuos de uma criatividade exaurida e estéril. E mesmo qualquer palavra aqui escrita, tentando conceber uma visão mesmo que caricatural de tais pesadelos estarrecedores, não passará de uma tentativa pálida, esmaecida e decadente de entendê-los. 

 É por isso que fraquejo nesse instante, sem saber como continuar esse arremedo de texto, maltratado pela funesta tentativa de explicar o inominável, descrever o indescritível. Ainda assim, tentarei traduzir o que minha imaginação distorcida e insuficiente pode deduzir. Me arrisco a crer que tais pesadelos invocavam o profano, o desumano, o diabólico e o sobrenatural. Sonhos com monstruosidades inconcebíveis, criaturas necrófagas, sombras amorfas e incorpóreas, alienígenas aterradores; com os mais profundos abismos sem luz, exalando, de suas profundezas misteriosas, efluências de gases miasmáticos e vapores esverdeados que emanam fedores particulares. Pesadelos vívidos com profundas catacumbas gotejantes, em cujo chão úmido proliferam fungos fosforescentes, de onde nasce uma névoa amarelada e sepulcral exalando cheiros fétidos; nas paredes bolorentas poder-se-ia ver uma odienta serosidade mefítica que evocaria, nas lembranças de quem a visse, mórbidas sugestões de rostos humanos transfigurados. 

Claro, essas não passam das mais puras especulações, mas quem poderia conceber horrores tão bizarros e desconexos senão através de seus próprios sonhos? Não são eles em sua maioria desconexos, produzindo seres e situações anormais e exóticas, caindo, muitas vezes, até mesmo em delírios hediondos? Sonhos que nossa consciência faz questão de apagar da lembrança, restando apenas aquela sensação de algo doentio e sinistro vivido num mundo distorcido e tenebroso? 

São questões intermináveis que minha vacilante imaginação nunca poderia alcançar. E, como alguém que sonha em ser escritora, uma violenta consternação me petrifica ao tomar consciência de que, perto desse gênio invulgar, possuo apenas um vazio mental. Diante dessa aterradora situação, abafo o mais alto dos gritos e mergulho numa resignação que transformo aqui nessa histérica homenagem, ainda que esta não passe, na realidade, de um mero sussurro entrecortado.




O presente texto foi escrito em julho de 2011 e finalizado hoje.