19.8.08

sonhos: no mundo das favas

Então, lá estava eu e meus amigos: Rosa, Aninha, João e Pedro. Estávamos os cinco dentro da Casa da Árvore. A Casa da Árvore estava abandonada há séculos, completamente vazia. Uma aura estranha a rodeava, ela parecia de certa forma imaterial.

- Ei, João, parece a casa de doces da bruxa má. Só te falta a Maria...

O rapaz me deu uma olhada de soslaio, parecia que não tinha achado muita graça. Os outros deram sorrisinhos, mas continuaram apreensivos com o lugar. Até porque, a casa não parecia em nada com a casa de doces da história infantil - apesar de, ao mesmo tempo, todos nós ficarmos com a sensação de que era exatamente igual. Andamos pelos cômodos, mas a casa, que parecia imensa por fora, por dentro não tinha muito mais do que duas ou três salas não muito grandes. Aquelas salas pareciam feitas de alvenaria, com um piso cerâmico hora cinza, hora castanho. As paredes eram brancas, meio amareladas, e o teto às vezes parecia de pedra, mas quando se olhava para cima, era apenas uma laje no mesmo tom das paredes.

Quando entramos na terceira sala - ou chegamos nela, pois eu não me recordo muito bem de realmente andar pela casa -, havia um buraco bem no centro, um buraco quadrado, com uma espécie de guarda-corpo de metal em volta. E do buraco saía um brilho fraco, meio azulado - algo como uma neblina iluminada por uma lanterna branca, mas menos "fumaça" do que isso. Sobre o guarda corpo, pindurado desde o teto por alguma corda que não se via, uma placa estranha, também com o mesmo ar imaterial do restante da casa, onde se lia "O Poço".

Eu me aproximei do Poço. Sobre o guarda corpo, parecia que havia uma tampa de vidro, e o buraco era escuro e parecia não ter fim - ou pelo menos não era possível vê-lo. Dentro do poço, quando olhamos por cima do vidro, era possível enchergar um lago com a Casa da Árvore erguida em uma de suas margens, um lindo gramado verde e florido completava o cenário, com algumas árvores espalhadas. Mas olhando dalí, parecia que era apenas uma maquete. Meus amigos ficaram encantados, empolgados. Queriam entrar pelo buraco e ver aonde ele daria. Pedro foi o primeiro a querer entrar e Rosa estava pronta para seguí-lo, mas eu os parei:

- Não! Tem alguma coisa errada aqui! - disse com a voz um pouco esganiçada. - Olhem, olhem a minha mão!

Eu havia colocado a mão na tampa de vidro, mas quando o fiz, a mão o atravessou. Não era um vidro, parecia uma espécie de líquido, mas um líquido que não molhava. Minha mão ficou deslocada lá dentro e dependendo do ângulo de onde se olhava, parecia que ela nem estava lá. Os outros pareciam não se importar com aquilo, mas eu não tive tempo de discutir.

De repente, eu estava às margens do lago. Olhava a Casa da Árvore na margem oposta: ela era tão grande, com as paredes avermelhadas e no alto havia um cômodo de onde saíam duas janelas ovais. O telhado de barro era de duas águas, mas os vários andares a faziam semelhante a um castelo de barro. De uma parte da casa saía uma árvore, cujo tronco era tão largo quanto um de seus cômodos menores. A árvore se erguia e suas folhas começavam só onde o tronco já estava mais alto do que a sala mais alta. As folhas eram muito miúdas, entremeadas com pequenas flores multicoloridas.


A Nina estava comigo, e nós duas ficamos alí, olhando fixamente para a casa até notarmos uma moça na margem oposta, próxima à casa. Mas a moça era gigantesca! Ela era do tamanho da Casa da Árvore e conversava com a casa como se esta fosse uma pessoa. E foi nesse momento que eu percebi: a Casa da Árvore era ela também uma moça. A moça-casa estava ajoelhada na margem do lago, como se colhesse algo e de suas costas saía a árvore. Perto delas, eu e a Nina éramos minúsculas, como pequenas fadas da floresta.

Nós nos encolhemos em meio a um arbusto e ficamos olhando as duas conversando. Então, os olhos da moça-casa se acenderam. Os olhos da moça-casa eram as janelas do alto, as janelas ovais! E eles se acenderam porque meus amigos estavam lá dentro. Assustada, eu olhei para a outra moça - eu temia que ela descobrisse que meus amigos estavam dentro da colega dela -, mas então ela também olhou para mim. As duas moças nos viram e decidiram que queriam uma fada. Elas queriam nos pegar!

Eu e Nina corremos. Já era noite e nós corremos da moça-casa até o amanhecer. Passamos por grandes campos floridos, com a moça-casa soltando luzes em nossa direção, e percebemos que eram os raios de luz da moça-casa que fazia com que as flores aparecessem. Eram imensas flores brancas, de diversos formatos e nós nos embrenhávamos por entre elas. Até que a moça-casa nos pegou, eu e Nina.

Achei que era o fim. Fechei meus olhos com força e só os abri quando ouvi vozes:

- Tha? Onde é que você estava?! - era a voz da Rosa!

Abri meus olhos e percebi que eu estava dentro da casa novamente. Corri até uma janela (estranho, não lembrava de haver janelas da outra vez que estive aqui dentro) e olhei para fora. Estava tudo normal. A casa estava fixa na margem do lago, com flores brancas adornando o gramado à sua volta. Não havia moça gigantesca alí, e a casa não era uma moça-casa.

- O que aconteceu? - perguntei.

Todos deram de ombros. Ninguém sabia me explicar nada, mas pareciam alegres - quero dizer, muito alegres. Eles falavam sem parar, contando histórias que não faziam sentido, sobre os dias anteriores. Olhando ao meu redor, percebi que os cômodos agora possuiam móveis e que chá estava sendo feito no fogão à lenha da cozinha. Fogão de barro.

- Mas... dias? Quantas noites vocês dormiram aqui? - perguntei.

- Quatro, claro! - responderam em uníssono.

- Mas eu só passei uma noite lá fora! - falei, já meio desesperada.

Novamente, todos deram de ombros e voltaram a falar todos ao mesmo tempo. E ninguém alí parecia ter notado que nada daquilo fazia sentido. Minha cabeça latejava e a Nina já não estava comigo mais. Foi nesse momento que eu gritei:

- Eu preciso falar! Alguém precisa me ouvir!

Os quatro me olharam e finalmente fizeram silêncio. Aproveitando a atenção deles - que eu não sabia quanto tempo irira durar - comecei a contar tudo o que havia acontecido comigo. E a cada detalhe, eu via a expressão de desdém em seus rostos. Ao fim do meu relato, todos riram:

- Tha, vocês estava sonhando... - falou alguém, mas eu não conseguia mais identificar quem.

- Não riam, é verdade!

...

Então, eu acordei.

11 comentários:

Anônimo disse...

eu acho que vc (a gente) lê demais. pq eu enxergo harry potter, alice no pais das maravilhas, cronicas de narnia e muitos outros nisso tudo ai. lol
mas que agonia até conseguir acordar, hein?

Re disse...

e quem é a Tha senão uma mistura de todas essas histórias de fantasia? A Tha tem um espírito mágico, de aventura! Talvez por isso suas histórias sempre são interessantes!

Monica Asperti Brandao disse...

Já ouvi esta estória, com todos os movimentos de mão e etc...

tha disse...

oO

Meninas, um beijo pra vcs.

Mas agora preciso me ater a uma coisa:

Tia, já ouviu essa história?!

Monica Asperti Brandao disse...

Ué, já. Mas pensando bem, posso ter me confundido. Talvez na outra história, a casa era casa-monstro, e não casa-moça ou moça-casa. São tantas histórias...

Monica Asperti Brandao disse...

Li tudo. Do começo ao fim. E não cansei. É claro, levei 2 dias.
Me impressiona o seu jeito de escrever.Ouço sua voz saindo das palavras.
Aí me lembro de alguém dizer que escrever é um ato solitário. Será?
Ao ler suas histórias, vejo e ouço voce falando, juro é incrível. Tem uma mesa,( a do Sítio), e aí estamos ao redor dela e voce falando. Acho que voce escreve do mesmo jeito que fala, é por isso.

Monica Asperti Brandao disse...

Daí, fiquei pensando pra quem voce escreve?..
Não sei, mas na mesa que vem na minha cabeça, sua mãe esta sempre presente, olhando pra voce e dizendo, ham, ham, .......

Monica Asperti Brandao disse...

O engraçado, é que tentei ler uma parte para o ZP, e aí ao ouvir minha própria voz, dizendo suas palavras, não deu certo. Ficou estranho.
Mas funciona perfeitamente bem com a sua voz.

Beijão.

Monica Asperti Brandao disse...

Sabe, acabei de descobrir o Strawberry antigo, e aí acho que vou ter muito trabalho. Menina que fôlego voce tem!
Mas, relendo novamente a história -sonhos: no mundo das favas, até por ja ter escutado outra história parecida, com casa-monstro, me parece muito interessante esse negócio de casa-gente nos seus sonhos. Muito bem descrito por voce, os olhos-janelas-ovais iluminados dos quartos, da casa-moça, onde estão os teus amigos, olhos que também iluminam as flôres pelo caminho de sua fuga junto com a Nina. Estou pensando sobre isso. Muito Interessante.

Beijão.

tha disse...

Mary, a gente lê muito. O que é bom, pq adoro esses sonhos esquisitos... hehehehe Acho que se eu não lesse tanto (principalmente fantasia), meu subconciente não ia ter de onde tirar esse tipo de coisa. ^^

Rê, fiquei comovida! E, como eu disse, adoro essas aventuras malucas! rsrsrsrs


Tia, inacreditável vc ter tido pique pra ler o blog todo! Lisongeiro, hehehe! Qto a esse sonho, foram essas peculiaridades dele que me deram vontade de compartilhá-lo aqui no blog. Fazia tempo que eu não tinha um sonho tão pitoresco... rsrs
Mas, nem seis e vale a pena ler o antigo Strawberry, eu era bem mais novinha naquela época.

beijos a todas!

Anônimo disse...

Esse seu sonho foi muito interessante, vc precisa continuar, fiquei com vontade de saber mais sobre essa tal casa. Acho q me lembrou um pouco aqueles castelos vermelhos poloneses....
Bjos