15.2.11

já se foi o disco voador

Meu avô, o engraçado*, faleceu dia 04 de Fevereiro de 2011.

O estranho é que, ao mesmo tempo que foi inesperado, eu não fiquei chocada com a notícia. Triste demais, mas não chocada. Além disso, ele morreu dormindo, sem dor nenhuma, sem nem saber. Acredito que é o melhor jeito de morrer.

Vovô não estava doente, mas estava fraquinho. Isso porque se por um lado ele era velho, pelo outro também - afinal, ele não tinha oitenta e poucos anos, ele já rumava para os oitenta e todos. Acho que a primeira pessoa que eu ouvi falar bem do Chaves foi meu avô. E ele tinha esse espírito mesmo, de eterna criança.

Ao longo das 6 horas de viagem rumo ao velório, fiquei imaginando o que ele nos diria enquanto estivéssemos chorando ao redor do seu caixão. Eu consigo até ver os bracinhos dele para cima, como quem toca um bando de cachorro, gritando "Vocês são tudo um bando de filhos e netos de um burro! Vão tomate cru!"

Meu avô era assim. No velório da vó Miss, ele disse que ela passou a perna nele, que ele estava na fila antes. Quando a gente era criança e andava de carro com ele, ele adorava ficar dando freadas e aceleradas bruscas seguidas, no meio da cidade, só pra levar buzinada e fazer os netos rirem. Uma vez ele estava andando "de carona" num trator, passando no meio de um pasto, e ele gritava para os bois e vacas "suas vacas!!! suas mães são umas vacas!!!".

Nos últimos tempos, a lembrança que fica mais forte é a vontade que ele tinha de brincar com meu filho. Mas ele o via muito pouco e não tinha mais forças para dar conta de uma criança de menos de dois anos. Ainda assim, eu via seus olhos brilharem, tentando chamar a atenção do pequenino, fazer alguma piadinha infame, algum barulho engraçado. E ele sempre queria saber se o garotinho era inteligente, se encaixava os brinquedos direitinho.

Mas não só de brincadeiras vivia vovô. Ele também era um homem absurdamente inteligente e racional.  Adorava propor problemas de lógica e matemática para seus netos, pois adorava o assunto. Mas ao mesmo tempo foi um dos homens mais romântico que eu já conheci. Não no sentido amoroso da palavra. Acontece que ele dava muito valor às lembranças, ao passado, a objetos e lugares que marcaram sua vida.

Mas acima de tudo, ele era humilde. Eu nunca o vi falar bem de si mesmo. Meu pai um dia me disse que encontrou um antigo colega de trabalho do meu avô e este lhe disse "seu pai foi o homem mais inteligente que eu conheci". Meu pai não fazia idéia do respeito que tinham por meu avô onde ele trabalhava, foi só quando conheceu esse senhor que ele descobriu isso. Meu avô pintava muito bem, mas abdicou de seguir com seu dom quando percebeu que a minha avó demonstrou interesse na pintura, acho que ele queria dar esse espaço para ela, não queria competir. E quando alguém elogiava algum de seus antigos quadros, ele recebia o elogio com modéstia e sempre dizia "não, quem pinta bem é a Nena".

São essas lembranças que eu vou guardar, juntamente com outras tantas que hei de contar aqui.
Por que o vovô engraçado ainda tem muita história pra contar.




* Vocês já conhecem ele desse post e desse outro post também.

3 comentários:

Anônimo disse...

Muita falta me faz....Muita saudade...
É uma dor enorme. Eu o amava muito.

M.A.B.

Monica Asperti Brandao disse...

Tha,

Tomei a libertdade de copiar esta mensagem, e coloca-la no "Vejam Tudo Isso", na postagem sobre o Vô Flávio.

Beijão!

M.A.B.

Re disse...

A saudade é a lembrança viva de quem se foi. E uma lembrança com aconchego de colo de "vô", de bala dada escondida da mãe, de balanço improvisado em seus braços.
O feijão amassado no prato antes de comer e a laranja depois do almoço.
São lembranças que me fazem sorrir e me emocionar, cada vez que lembro dele. E ele tb assistia ao Chaves, hehe.
bjão!!