9.1.08

vô Pira

Bem, o fato é que meu vô Pira (pai da minha mãe) faleceu (09/04/07) e eu queria deixar registrado isso no meu blog. Porque é triste, eu sinto falta dele, mas ele tem umas histórias tão boas...

Uns meses depois que ele se foi, eu mandei um e-mail para diversas amigas contando o fato, e abaixo está transcrito a maior parte do e-mail. Eu fiquei super em dúvida se eu falava sobre o assunto aqui, eu fico com medo do efeito que pode ter sobre algumas pessoas que talvez leiam. Mas, apesar da saudade imensa que eu sinto dele, eu gosto de lembrar dele, de como ele era, das coisas que ele fez, das histórias da infância dele.

Em Novembro do ano passado ele estava muito mal. Eu não tinha noção da gravidade, pois a minha mãe não gosta de me contar essas coisas para não me deixar triste, mas eu sabia que coisa boa não podia ser. Carangadinho ele sempre foi. Qdo pequeno (questão de 9 anos +-) ele resolveu fazer uma espingarda (e conseguiu!) e estava tentando fazer caber mais pólvora num vidro enquanto mostrava o seu grande feito a um dos irmãos (q carregava no colo sua irmãzinha de 2 anos), e de repente o vidro explodiu. Ele quase morreu, mas no fim das contas "só" perdeu a mão esquerda, e sua irmã ainda expelia cacos de vidro do corpo até uns 5 anos atrás... Bem, por causa da falta da mão, ele sempre andou com o pulso esquerdo no bolso da calça. Quero dizer, A VIDA TODA. Por isso, ele sempre foi meio torto, pendendo pra esquerda. rsrsrs. Ele já teve paralisia facial, então, além de pender pra esquerda, um olho dele era mais fechado do que o outro (tanto que a Nina tem a mania de diminuir um olhinho só e nós chamamos ela de vô Pira qdo ela faz isso). Ele tb, logo q eu nasci teve um problema sério de pulmão e quase morreu, mas depois do susto ele parou de fumar e eu NUNCA vi um cigarro na boca dele. Fora isso, desde que eu me lembro ele ficava todo travado por causa da gota. Há uns tempos atrás ele teve um infarto enquanto dirigia, mas achou q não era nada (!!!!) e continuou perambulando pela cidade normalmente. Mais tarde meu tio desconfiou, fez os exames e confirmou que ele tinha passado o dia infartado... Desde então, ele não podia mais dirigir o carro em viagens, só na cidade, e pouco. Esses foram os causos principais dele (teve tombos e outras coisas menores tb) e acho que ilustram o que eu quis dizer com "ele sempre foi carangadinho".

Voltando... Por ele ser assim, carangado, eu sempre tive a sensação de que ele teria todas as doenças e problemas do mundo, que só o deixariam mais bagunçado, mas era como se ele nunca fosse morrer, sabe? Ele era daquele tipo, que só ameaça, assusta, mas no fim das contas tava sempre lá, bonitão e forte. Então, eu de fato, assumo, não dei muita bola em Novembro.

Em Fevereiro ele pegou pneumonia. Acho q era a última coisa q ele ainda não tinha tido! rsrsrs Ele foi internado e todo mundo achou que ele ia morrer a qualquer momento (como de praxe), mas não. Ele melhorou, sarou e pronto. Mas aquilo realmente o assustou. Ele estava com muito medo de morrer. Ele se cuidava direitinho, tomava TODOS os remédio na hora certa, sem pular 1. Nem precisava da minha vó lembrá-lo.


Meus pais começaram a falar para eles irem pra minha casa, pra distrair e descansar no sítio. Meu avô não queria de jeito nenhum. Ele dizia que se fosse pro sítio ele iria morrer. Mas com o tempo, ele foi se sentindo melhor e finalmente, na páscoa, meu pai conseguiu convencê-lo e ele se animou para ir. Meu outro avô também foi e aí aproveitamos para pegar aquelas fitas de vídeo de qdo eu e o Lu eramos crianças e passamos o feriado todo assistindo. Foi delicioso. O outro avô se emocionou pq ele viu a Tia Dê e a vó Miss pela primeira vez em vídeo depois q elas morreram, e adorou poder recordar. Não queria mais para de ver. O vô Pira idem: em uma das fitas aparecia o meu tio Junior, que morreu qdo eu tinha 9 anos, e tb aparecia eu e as minhas primas pequenininhas, o Lu e tal, e ele não queria ir dormir, só queria assistir os vídeos! Ele até parou de fazer paciência (seu vício) para poder assistir!!


E ele estava bem! De verdade! Estava sem dor, sem nada de nada! Não se cansou, dormiu bem todas as noites. E, normalmente acostumado a acordar lá pelas 7hs, acordou 9hs todos os dias. Fazia tempo que eu não o via tão bem. Foi uma pena meu irmão não ter podido vir e vê-lo assim...


Eu fui embora no domingo, mas como de costume, ele e minha avó ficaram para viajar só segunda de manhã. Minha mãe disse que ele acordou bem, sentou para tomar o café da manhã tão animado que já fazia planos para qdo viesse novamente. Ele desceu para esperar o motorista que ia levá-los para a cidade deles (sem carregar peso nem nada, pq as malas já tinham sido colocadas no carro na noite anterior) e qdo a porta do elevador abriu, ele saiu de lá de dentro e falou pra minha avó que estava com tontura. Essas foram as últimas palavras dele. Ele foi se apoiando nela, o motorista veio correndo e os dois o deitaram no chão. Minha avó falou que ele já estava com o lábio roxo nessa hora. O motorista era ex-policial e fez massagem cardíaca na hora e respiração boca-a-boca. Minha mãe chegou +- nessa hora (pq meu avô apressadinho não queria esperar ela e meu pai se trocarem e já desceu) e pegou o pulso dele. Ele já não tinha mais pulso. Ele chegou a tossir e o pulso voltou super acelerado, mas parou logo em seguida. O resgate veio num segundo, o levou pro hospital onde já havia um médico à espera, mas acho q ele já estava morto. Isso era lá pelas 8:30 da manhã.


Eu fiquei sabendo pouco depois, cerca de 9h e pouco. O corpo foi levado para a cidade dele e o enterro foi no dia seguinte. Minha vó foi forte. Mais forte do que eu imaginava. Pelo menos ele se divertiu nos seus últimos dias. E o que me consola é que ele morreu sem saber. Ele tinha tanto medo...

Um comentário:

Monica Asperti Brandao disse...

Lembro de tudo.
Bom ver este relato.